Quem sou eu

Sou uma pessoa que tem vontade de aprender sempre mais e tudo que aprende ensina sem querer nada em troca, enfim, essa sou eu Bx a unika

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Racismo na infancia


Durante muitos anos guardei para mim varias coisas que me aconteceram quando eu era criança e adolescente, mas por um motivo que vou mencionar mais para frente esses sentimentos retornaram porem a diferença é que hoje sei lidar com isto.
Comecei minha vida escolar em 1982 uma época em que as escolas estavam começando a ser seletiva e a maioria ainda era de brancos, e eu aos 6 anos não sabia que o mundo era tão cheio de preconceito, lembro- me que ao chegar na sala de aula uma garota disse que não se sentaria ao meu lado porque eu era preta e para evitar um atrito a professora nos colocou em lados opostos da sala e eu não entendia o porque daquilo, pois até então eu só conhecia minha família e as pessoas da igreja e não via esta diferença.
No dia seguinte a mãe desta mesma aluna foi a escola pedindo a professora que me tirasse da classe pois ela não aceitaria a filha em uma sala com dois alunos pretos, sim éramos 2 sem saber que o mundo era cheio de gente maluca, a professora disse que não poderia fazer nada, mas que nos separaria da filha dela e assim foi durante um ano.
Eu ia para a escola sem vontade nenhuma de estar ali, no ano seguinte foi a mesma coisa pois aquela garota estava na mesma sala, e por causa deste episodio eu tinha medo de ficar perto de pessoas brancas apesar do meu pai ser branco e então surgiu uma garota branquinha com os cabelos lisos e loiro e fez amizade comigo e me mostrou que nem todo mundo era louco feito a outra garota e a mãe dela.
Essa menina loira andava comigo para cima e pra baixo e me apresentou a mãe dela como uma amiga e disse mãe essa é minha amiga a única que fala comigo e a mãe ficou feliz pois a filha agora tinha alguém com quem conversar e somos amigas até hoje.
O ano passou e eu com muitos problemas para aprender porque apesar de ter uma amiguinha para brincar eu ainda via os olhares estranhos as pessoas chamavam ela falavam algo que ela voltava triste e eu nunca soube o que era, e então fomos para a segunda serie e eu mal sabia ler, mal sabia escrever porque ir para a escola para mim era muito ruim sofria cada vez que tinha que entrar na escola.
Criança não conta nada a seus pais pois elas sempre acham que são culpadas, tive uma professora na segunda serie que era racista e gostava de colocar crianças problemáticas em evidencia e diante de todos da classe ela me chamava de porca pois minha letra era um garrancho só e meus cadernos eram os piores possíveis pois eu não queria estar ali.
Enfim cheguei a adolescência e fui para o antigo ginásio esperando que as coisas ficassem melhores e que eu pudesse me defender já que nos primeiros anos eu não sabia o que fazer, mas os problemas aumentaram pois eu não sabia como me defender e muitas vezes acaba me dando mal.
Ouvia coisas do tipo você é feia, ganhei apelidos que na época eram terríveis e muitas vezes eu estudava chorando e minhas notas eram as piores pois eu não tinha vontade nenhuma de estar ali, não queria ver aquelas pessoas, não queria saber de ninguém a minha vontade era me trancar em casa e nunca mais sair pois todas as coisas do mundo me machucavam.
Aos 15 anos cheguei ao ensino médio naquela época chamado de segundo grau e não consegui concluir eu não tinha nada que me fizesse sentir melhor, cada dia na escola era mais um dia de horror, e a única pessoa que eu tinha era aquela garota loira que fiz amizade no inicio da minha vida escolar.
Passei 25 anos sem querer ir à escola, não queria terminar, tinha pavor de tudo aquilo acontecer e eu não saber lidar mesmo já adulta.
Esses sentimentos adormeceram até que resolvi voltar a estudar e nos primeiros dias parecia que tudo ia bem até que uma pessoa da minha classe passou a me tratar com preconceito, por minha idade e eu tentei ignorar por vários dias até que não aguentei e tive que me defender da única forma que eu sei, mostrei quem eu sou dei a esta pessoa a resposta merecida e a partir dai aquela pessoa que tinha as piores notas quando criança e adolescente de repente era a mulher estudiosa que aprendeu coisas novas e as notas foram as melhores.
Muitos dias eu entrei naquela escola pensando mais um dia e aqui estou eu e que Deus me ajude a passar por mais esse dia e que me dê sabedoria para enfrentar as coisas de forma que nada saia do controle.
Eu consegui terminei o primeiro ano e tenho mais 1 pela frente, acredito que estou mais forte para enfrentar qualquer coisa e realizar meus sonhos, hoje ninguém vai me diminuir por minha cor, por minha idade, ou seja, lá pelo que for pois eu provei a mim mesma o que sou capaz e quão inteligente eu sou para prosseguir.
Quanto as pessoas que um dia me diminuíram ou diminuem eu acredito que não sairão do lugar, porque pessoas assim não merecem nada melhor do que o que tem e não se esforçam para conseguir nada e quando conseguem o sabor não é de vitória pois não fez por merecer.
Espero que as pessoas aprendam, preconceito, racismo, é crime para a justiça, para quem comete é apenas seu ponto de vista, apenas sua vontade de mostrar ao mundo o que ele pensa e defender sua “liberdade de expressão”, mas para a vitima é uma dor que muitas vezes não tem cura, o racismo precisa acabar, nós somos pessoas e precisamos ser tratadas como tal.
Temos o direito de estudar, trabalhar e é nosso dever respeitar as pessoas sejam elas pretas, brancas, amarelas, homossexuais, heterossexuais, evangélicos, espiritas, etc... respeito sempre.
Léia Martins


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